Devo ser, a esta hora tardia, uma de entre um grupo considerável de Portugueses que assistiu perplexo ao triste desfecho de "Grandes Portugueses". A vitória de Salazar (que não é um grande português, é um português marcante, ideia muitas vezes veiculada em conversas com amigos)faz-me pensar em muita coisas e numa análise simplista, mas talvez muito acertada, este acontecimento faz-me perceber que o povo deste país nunca deverá merecer mais do que o que pouco que tem. A tacanhez das mentalidades que fizeram com que isto acontecesse faz-me perceber que se calhar esta gente merecia continuar em ditadura e afinal o 25 de Abril só foi bom porque agora é feriado. Eu não vivi a ditadura (felizmente), nasci seis anos depois da revolução, e por isso não sei dar o valor ao que é viver esses tempos difíceis. Mas hoje continuo a arrepiar-me com os documentários da época e com as senhas musicais da revolução, é verdade.
Esta vitória, ainda que num concurso, faz-me sentir ferida e faz com que a memória de muita gente que lutou contra o regime seja vilipendiada. Não esqueço as vezes que a minha mãe contou o quanto a minha avó se preocupava com o facto de o meu avô se mostrar abertamente contra o regime e serem muito os denunciadores nesta zona; relembro sobretudo as vezes em que os meus pais me contaram o que viveram no dia da revolução; fechados na fábrica onde trabalhavam, ouviam pelo rádio que «anda muita gente pelas ruas de Lisboa» e dizem que é uma revolução e o governo caiu e os soldados têm cravos nas espingardas... tudo num burburinho de informações que mudou a vida deles e a de quem veio a seguir. Será que isto não conta nada?
Estou profundamente revoltada com esta decisão soberana (lol sarcástico) do povo e preferia ter visto o Álvaro Cunhal vencer este concurso, ainda que para mim só pudesse haver dois vencedores: D. Afonso Henriques e Salgueiro Maia (muito mais inclinada para o último).
Enfim, Salazar venceu; construam-lhe um museu e elevem-no a santo se quiserem. Pode ter feito milagres às finanças e pode ter-nos livrado da guerra, mas não livrou o povo da fome e da ignorância; por longos anos matou um dos bens mais preciosos, bem que, a não existir hoje,não permitiria a esses clarividentes que pudessem votar nele. Deixou-nos «orgulhosamente sós» e o esplendor de tempo passados foi coberto pela tristeza de um povo oprimido. Essa tristeza nunca nos abandonou enquanto país, mas hoje revive com muita força. Não quero ser fundamentalista, mas isto faz pensar em muita coisa...
6 comments:
Tem calma... Vem aí o encoberto...
E se eu te contasse o que ouvi ontem a noite de um senhor que demonstrou todo o seu orgulho em ter votado nessa figura, nem ias acreditar. Pode vir quem seja mas contnuo a achar que isto é grave.
Salgueiro Maia como o maior português de sempre? Really? Se há gente que, como dizes, esqueceu o 25 de Abril parece haver também que exacerbe os seus heróis... Há mais História de Portugal antes de 1974 e antes de 1933.
Há muitos que mereciam este título e até concordo que há mais História para além destas datas, mas tenho que lhe agradeçer por ter este blog e por muitas mais coisas. E são opiniões, e eu admiro-o e pronto...
Lutador da liberdade por lutador da liberdade, Humberto Delgado seria muito mais importante no que se veio a passar no 25 de Abril, ao nível de esperança dada a um povo, do que um capitão que, vá lá, era carismático, e embora se tenha posto na linha da frente na revolução, arriscando a carreira militar, limitou-se a põr em cima de um chiamite e entrar com ele Lisboa a dentro. Delgado, ao menos, confrontou, olhos nos olhos, o regime em todo o seu esplendor e deu a vida por isso.
E se fosse por admiração, eu defenderia outros candidatos. The point is não pode haver nenhum grande portuguê: as variáveis são tão esparsas que o mero exercício é redundante. Ninguém merece este título, simplesmente porque não há nenhum grande português. Houve portugueses de valor, mas decidir qual deles é o maior? Nem vale a pena.
Continuo a dizer que são opiniões e por ser de Clássicas não digo que Eurípides é melhor grego de todos os tempos. São perspectivas...
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